Professores fazem a maior greve da história do Rio de Janeiro

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A greve dos professores da rede estadual do Rio de Janeiro, que já
dura 135 dias e paralisou cerca de 35% dos docentes, está
sendo considerada a maior da história do estado. Os trabalhadores
reivindicam recuperação salarial de 30%, cumprimento do calendário de
pagamento e uma pauta pedagógica extensa.

“Conseguimos algumas vitórias nas reivindicações pedagógicas, como a
eleição direta para diretores por voto paritário, que também é fruto das
ocupações de escolas feitas pelos nossos alunos. Outra vitória parcial
foi a destinação de um terço das horas de trabalho para planejamento e
enquadramento por formação, mas há a chantagem de que essas duas só vão
ser concedidas caso a gente termine a greve”, explica Ricardo Pereira,
da Secretaria de Assuntos Pedagógicos do Sindicato dos Profissional de
Educação do Rio de Janeiro.

“Mas em relação a pauta econômica não conseguimos absolutamente nada
ainda”, pontua. “O governo não quer discutir a questão do calendário.
Nosso pagamento foi jogado do segundo dia útil para quase a segunda
semana do mês. Os aposentados não recebem no mês, mas parcelado em duas
vezes. As garantias econômicas, o governo não cumpriu. Nem o básico, que
é receber no mês trabalhado”, elencou Pereira.

Quem paga a conta

Há um mês, o Rio de Janeiro está oficialmente em estado de calamidade
pública. O governador em exercício, Francisco Dornelles (PP), alega
que, em função da crise econômica do país e da redução de repasses de
royalties do petróleo, o estado també passa por uma profunda crise. O
governador eleito, Luiz Pezão (PMDB), está afastado por problemas de
saúde desde 28 de março.

Para Pereira, no entanto, os problemas ocorrem há muito tempo e o
governo escolheu que quem vai pagar por eles são os servidores e os
usuários dos serviços públicos.

“[O governador] podia salvaguardar os serviços públicos e os
servidores, mas fez a opção de continuar com as isenções fiscais. Só no
ano passado, foram R$ 7 bilhões [em isenções]. Concedeu isenção de R$
600 milhões para a Land Rover, uma fábrica que vai oferecer para o Rio
de Janeiro quarenta empregos. E segue com os cargos comissionados, que
nós sabemos que servem para o nepotismo de estado”, exemplifica.

Para o dirigente do sindicato dos professores, os Jogos Olímpicos,
que serão realizados na capital do estado entre 5 e 21 de agosto,
agravam a situação.

“É uma inversão de valores. Temos feito campanhas: tem dinheiro para a
Olimpíada, mas não tem para a educação. Vamos expor isso durante os
jogos: que o país das Olimpíadas tem escola sem quadra esportiva, que os
alunos não têm aula de educação artística”, afirma Pereira.

Atualmente, o salário básico bruto dos professores com carga horária
de 16 horas é de R$ 1.179, um dos menores entre todos os estados da
federação. O sindicalista lembra que, com a eminente aprovação
do Projeto de Lei (PL) 257/2016, as perdas dos professores podem chegar a
70%.

O PL tramita na Câmara dos Deputados e faz parte do ajuste fiscal da
gestão interina de Michel Temer na Presidência da República. O projeto
prevê o congelamento dos salários de servidores públicos.

Greve é considerada abusiva

A Justiça do Trabalho julgou a greve como abusiva, o que levou ao
corte de ponto por 17 dias. Na sexta-feira (18), o presidente do Supremo
Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, decidiu que o governo
do estado deve cumprir o calendário de pagamento.

“Vamos ver se o estado cumpre. A greve é abusiva, mas não é abusivo
não receber no mês trabalhado, não ter calendário de pagamento, ser
aposentado e não ter dinheiro para comprar remédio. Nada disso é
abusivo. Abusiva é uma greve que quer o mais básico”, crítica o
sindicalista.

A reportagem procurou a Secretaria Estadual de Educação, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

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