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IDEB e a Reforma do Ensino Médio apostam em educação rasa e acrítica

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A Medida Provisória (MP) 746, lançada pelo
Governo Federal na semana passada, já vem preocupando professores de todo país
pelo empobrecimento da formação dos adolescentes, que hoje já é deficitária, e
pelas demissões que a redução das disciplinas pode gerar. O que muitos esquecem
é que essa medida não é aleatória. De certa forma, é mais uma consequência
do projeto do capital para a educação do país, como vem sendo a privatização do
ensino superior e também as avaliações padronizadas para todos os níveis de
ensino.

O objetivo central da MP 746 é a restrição da
aprendizagem dos estudantes do ensino médio, com a transformação das disciplinas
de artes e educação física em opcionais, retirada da sociologia e filosofia e com o incentivo à
formação técnica.
Nessa proposta, a escola deve formar mão de obra barata para as empresas. A
medida orienta a redução do conhecimento obrigatório dos estudantes do ensino
médio público à língua portuguesa e à matemática, que serão as únicas
disciplinas a serem ministradas obrigatoriamente nos três anos do ensino médio.

Na verdade, a proposta do governo Temer já vem sendo
endossada há bastante tempo. No período do governo Lula, a defesa de Fernando Haddad,
então ministro da Educação, era de que deveríamos continuar focando na
avaliação dos conhecimentos de língua portuguesa e matemática, assim como já
acontecia no governo do PSDB. O ministro de Dilma, Aloísio Mercadante, ao falar
sobre os resultados do ENEM, em 2014, também afirmou que o currículo no ensino
médio era muito inchado e deveria ser reformulado. Tudo isso a fim de melhorar
as notas nos testes em larga escala, que seguem as orientações do Banco
Mundial.

Neste sentido, existe uma importante relação entre
provas e testes e o modelamento e engessamento do currículo. De forma bem
simples, as provas e testes acabam ditando o que deverá ser ensinado
. Direta ou indiretamente, as escolas transformam o bom desempenho nos
testes externos padronizados em um de seus grandes objetivos no ano letivo, como demonstram várias publicações em redes
sociais do último mês.

Não é diferente quando pensamos no Índice de Desenvolvimento na Educação Básica (IDEB). Para alguns professores da rede
municipal de Curitiba foi evidente a programação realizada pela Secretaria Municipal de Educação para
treinar os estudantes visando êxito na Prova Brasil. No segundo
semestre de 2015, professores foram coagidos a ir em formações que apresentavam
planejamentos prontos para serem aplicados em sala de aula, baseados nos
descritores das provas. Isso aconteceu um mês antes da Prova Brasil e, nesse período, as professoras dificilmente conseguiram planejar outros conteúdos.

Além disso, sempre ocorre pressão para a não
reprovação de alunos com a clara preocupação de que os índices baixem o IDEB da cidade. Sabemos que a reprovação do estudante não garante que
ele avance no próximo ano letivo. No entanto, temos que admitir que hoje na
rede municipal temos uma proposta de Ciclos de Aprendizagem que da verdadeira concepção
de ciclos tem pouca coisa. As turmas estão formatadas em anos e
a forma de ensino é moldada para que os estudantes
saibam determinados conteúdos até determinado período ou ano. Uma clara prova
disso nesse ano foi a imposição e supervalorização de planilhas conteudistas
como forma de pareceres entregues aos pais.

Muitas vezes, nós professores da primeira
etapa do ensino fundamental, nos vemos priorizando as aulas de matemática e língua
portuguesa em detrimento das outras disciplinas como história, geografia. Ou
tentamos erroneamente defender e encaixar as disciplinas de artes e educação
física na lógica de “disciplinas auxiliares” da aprendizagem lógica da língua
portuguesa e matemática.

Se você comemora o IDEB e é contra a reforma do Ensino Médio é preciso
refletir um pouco mais.

Várias pesquisas já apontaram os limites do
IDEB. Os índices são altamente questionáveis e a divulgação das notas geram
competição ao invés e incentivo. O resultado do IDEB de Curitiba inclusive é utilizado em campanha eleitoral, assim como já foi em campanhas
passadas.

Mas será que é desse ranking que as
escolas precisam?

Será que as unidades são comparáveis? Comemorar boas notas no IDEB com festas para as quais nem todos os
professores são convidados é conflituoso com uma concepção de educação para
todos e pautada na equidade. Infelizmente esse tipo de teste tem
influenciado nossa prática e faz com que caminhemos para um currículo escolar
mínimo que garante a formação de mão de obra barata e despolitização dos
trabalhadores.
Afinal para ser empregado
nas fábricas, no comércio, ou num emprego informal qualquer é preciso somente
ler e fazer contas simples. Ter senso criativo e crítico, conhecer a própria
história, saber se expressar e refletir sobre as contradições sociais não é necessário.

Portanto, quem defende uma “educação crítica”,
para “formar cidadãos” deve refletir bastante antes de legitimar testagens e
exames em larga escala, que em geral excluem de suas questões exatamente os
conteúdos que hoje estão sendo retirados do Ensino Médio. Precisamos de uma
educação que instrumentalize para o trabalho sim, mas não só isso. Precisamos
de uma educação que nos permita compreender o mundo, fruí-lo. É isso que nos
permitirá, a qualquer tempo, questionar a ordem existente, e construir uma nova.

“O mundo ao avesso nos ensina a padecer a realidade
ao invés de transformá-la, a esquecer o passado ao invés de escutá-lo e a
aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo: assim pratica o crime, assim o
recomenda. Em sua escola, escola do crime, são obrigatórias as aulas de
impotência, amnésia e resignação. Mas está visto que não há desgraça sem graça,
nem cara que não tenha sua coroa, nem desalento que não busque seu alento. Nem
tampouco há escola que não encontre sua contra-escola.”
Eduardo Galeano.

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