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Sistema de Educação precisa investimento e gestão democrática

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Entrevista concedida a Leonardo Wexell Severo

Em entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Roberto Franklin de Leão, fala da importância da Conferência Nacional da Educação Básica, que acontece em Brasília.

O fundamental dos debates, avalia Leão, “é que dá melhores perspectivas para a construção do Sistema Nacional de Educação, para o qual temos proposta. Ele só se constrói com investimentos à altura dos desafios de um país de dimensões continentais, com vinculação de verbas e gestão democrática, com a valorização dos professores e de todos os profissionais da educação”.

A conferência tem por objetivo discutir propostas efetivas para a estruturação de um sistema articulado entre União, Estados e Municípios que garanta a qualidade da educação pública no Brasil. A negação deste caminho coletivo, denuncia Leão, “é a triste realidade vivenciada em São Paulo, onde a imposição do modelinho neoliberal de gestão educacional estadual, de escola mínima para o pobre, redundou na drástica queda da qualidade do ensino, evidenciada pela piora constante dos índices, comprovada nas recentes comparações com os demais estados”.

Qual é a sua avaliação desta Conferência Nacional da Educação Básica?
Roberto Franklin de Leão – Acredito que sua importância reside na perspectiva da construção do Sistema Nacional de Educação, para o qual temos proposta. Ele só se constrói com investimentos à altura dos desafios de um país de dimensões continentais, com vinculação de verbas e gestão democrática, com a valorização dos professores e de todos os profissionais da educação. Defendemos o Piso Salarial Profissional Nacional não só para o magistério, um projeto de cargos e salários, um Plano de Carreira para todos, com atualização constantes desses trabalhadores, o que deve ser um dos seus pilares mestres. Sem ações mais consistentes, não conseguiremos superar as diferenças e garantir uma educação de qualidade. Este é o espírito dos participantes da Conferência.

Há um compromisso coletivo com a construção de um sistema articulado entre União, Estados e Municípios que garanta a qualidade da educação pública. E o detalhamento disso?
RFL – Existe uma identidade no pensamento, mas há diferenças no detalhamento de como esses apontamentos devem sair do papel e virar realidade. Cito o caso da gestão democrática. No detalhamento, para a CNTE, implica na construção de um sistema de participação dos trabalhadores e de quem se utiliza da educação pública. Não entendemos apenas como um processo de eleição para eleger a direção da escola, ou pior, como no modelo de São Paulo, onde a participação está restrita somente à execução, não à elaboração. Defendemos democracia em todas as instâncias onde se debate a educação, participação efetiva, também no nível intermediário, técnico, dos que pensam sobre os mais diferentes aspectos e implicações.

Citaste o triste exemplo do Estado de São Paulo. O que representou a implantação do modelo neoliberal na educação pública?
RFL – O modelo neoliberal estimula uma competição completamente insana entre as escolas, obrigando-as a perseguir um “êxito” definido por eles. É um modelo reducionista da educação, onde os alunos só precisam decodificar alguns códigos, assinar o nome e está tudo bem, tudo bom. É a escola mínima para o pobre. Não há nenhuma construção coletiva dos projetos educacionais, fundamental para o desenvolvimento de um ensino solidário, humanista. É um modelo de escola voltado apenas para melhorar os índices que eles mesmos derrubaram. Como o comprova a própria secretária estadual de educação, Maria Helena, que declarou que se pudesse fecharia as faculdades de Educação da USP e da Unicamp, é uma visão obscurantista. Ela se crê a luz, mas patrocina a mesma política que levou o caos às salas de aula.

E Serra tenta jogar o peso do fracasso tucano sob os ombros dos professores…
RFL – Exatamente. O modelo de educação imposto pelos tucanos em São Paulo vai completar 14 anos, tendo se revelado um completo fracasso. Mas Serra insiste na continuidade do modelo e elege os professores como os grandes adversários. Isso nos deixa orgulhosos, porque a Apeoesp é reconhecidamente um foco de resistência ao desmantelamento do ensino. Queremos a educação para a liberdade, para a democracia, para a construção da cidadania, com sujeitos protagonistas do seu próprio destino. Para o modelinho tucano, um dos problemas da educação é a autonomia das escolas, que na realidade não existe, é uma mentira. Seria muito diferente se houvesse democracia, se as classes não estivessem superlotadas, se as jornadas não fossem extenuantes e permitissem ao professor que se aprofundasse nas disciplinas.

Na prática, são impostos obstáculos ao processo de ensino-aprendizagem…
RFL – Vejam o caso de um professor de português. O acompanhamento visa orientar a leitura, o conhecimento da literatura, a feitura dos textos, a elaboração das redações, apontando erros de uma forma pedagógica, não para punir, como quer a secretária Maria Helena. O objetivo da correção é que o estudante aprenda com o erro, que melhore, avance. Como dar o acompanhamento de qualidade que esta disciplina requer com uma jornada estafante, em inúmeras salas e classes superlotadas? Em São Paulo, os professores têm o duvidoso direito a uma jornada de 64 horas, onde. descontadas as horas-atividade. são mais de 50 horas-aula, dentro de classe, em várias escolas. Como produzir bem? Vou falar um termo que os tucanos gostam: “rendimento”. Como o professor pode “render”, submetido a uma jornada dessas?

E põem a culpa no professor…
RFL – Pois é, o governador e a secretária se esquecem disso tudo para dizer que a culpada é a escola que não ensina, que é do professor porque falta muito. E o medo que ronda as escolas com a falta de segurança? E não é só uma questão de colocar polícia, mas de promover a socialização, investir nas comunidades, ter políticas para a juventude. O caos na escola pública paulista é responsabilidade do modelinho neoliberal, que nega o mínimo do mínimo à educação. Querem formar alunos para atender o mercado, não o mundo do trabalho, o mercado, com suas demandas sazonais. O mercado, que precisa de um exército de desempregados, de mão-de-obra barata. O Sistema Nacional de Educação deve estar calcado na escola, em uma concepção solidária, humanista, que prepare para a vida, vendo o trabalho como fator de realização, de desenvolvimento do homem.

Na foto, Roberto Franklin Leão (ao centro)coordena mesa do Coneb, pela CNTE

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